quarta-feira, 23 de abril de 2008

DILEMA DA VARÍOLA

“A varíola matava 2.000 romanos num só dia, por vários anos, durante o reinado do imperador-filósofo Marco Aurélio Antonino”, diz a revista Health. “Ela matou dois milhões de astecas, no século 16, depois que os missionários espanhóis fizeram os índios pôr-se em fila para beijar um Crucifixo — sem refletir, naturalmente, na sua limpeza.” Também dizimou várias tribos indígenas norte-americanas, e, no século 18, causou até 600.000 mortes por ano na Europa.

A vacina contra a varíola foi descorberta no ano de 1796 por Edward Jenner. Desde então, fizeram-se esforços de erradicar essa doença mortífera. Por fim, a varíola foi erradicada por um programa de vacinação promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a última vítima morreu em 1978. “Trata-se da primeira, e, até agora, da única doença que a ciência pode afirmar ter abolido completamente”, diz Health. A varíola não tem cura. A única medida eficaz é a vacinação.  A vacina é baseada na administração de vírus vivo vaccinia (o nome vacina vem do nome deste vírus já que foi a primeira vacina), aparentado da varíola. Este vírus leva à imunização eficaz mas numa pequena minoria de inoculados pode produzir sintomas graves como infecção generalizada, encefalite, febre, exantemas, e outros sintomas. A morte advém em 1 em cada milhão de inoculados. Indivíduos idosos em todo o mundo foram vacinados antes de 1970 e portanto continuam imunes.

A má notícia é que o vírus ainda sobrevive, sob os auspícios da OMS, em frascos colocados em cofres de segurança em Atlanta e em Moscou, e não se chegou a nenhuma decisão sobre o que fazer com eles. Alguns são a favor de destruí-los por completo, antes que sejam acidental ou deliberadamente liberados, ao passo que outros acham que a ciência pode encontrar alguma utilidade para tal vírus.

Este dilema fez com que o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush anunciasse, em 2002, um plano para vacinar 500 mil funcionários da área de saúde contra a varíola. Segundo a rede de TV americana CNN, após a primeira leva de vacinação, outros sete ou dez milhões de funcionários de saúde, bombeiros, policiais e socorristas seriam vacinados, como proteção contra ataques bioterroristas.

Segundo a emissora, a vacina também estaria disponível para o público, mas apenas através de avaliações feitas por clínicas. O governo recomendou que ninguém, além dos trabalhadores de saúde e socorristas, tomassem a vacina. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente americano vem avaliando o impacto de um potencial ataque bioterrorista com o vírus da varíola e estudando se valeria a pena expor a população aos efeitos por vezes letais da vacina.

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